Não me lembro bem o dia, sei que foi no final
de novembro, durante o uso do corticoide sempre tínhamos no quarto do Matheus
uma bala de O2(oxigênio) e um oxímetro (usado para medir os batimentos
cardíacos e nível de O2 no sangue e um aparelho de pressão, pois o corticoide
em doses extremas como o Matheus estava usando podia aumentar muito a pressão,
o que para um adulto já é perigoso, para um bebê pode ser mortal! E todos os
dias, vááááárias vezes ao dia aferíamos sua pressão e sua saturação,
principalmente durante as crises, não podíamos descuidar disso.
O aparelho de pressão eu comprei na Unicon,
uma farmácia grande aqui de Goiás que vende produtos hospitalares, na ocasião
eu pedi um aparelho para bebê e me venderam um para recém-nascido, eu não
percebi o erro e assim começou um dos piores momentos durante a doença. Teve um dia que o Matheus estava muuuuito
irritado, resmungando muito, inquieto, então fui aferir sua pressão, que na
hora estava 16x10, muito alta para um bebê, fiquei na dúvida se havia aferido
certo e fui para o hospital com ele, lá o médico aferiu( com o meu aparelho,
pois lá não tinha aparelho para criança) e deu 17x11, poucos minutos depois deu
18x12...quase ficamos loucos! O médico na hora pediu que o levássemos para
Goiânia, saímos feito loucos no mundo, já fui ligando para o pediatra dele e
para o dr Amilson Marçal, expliquei tudo que estava acontecendo e ele já
reservou um leito de UTI, pois isso era muito grave! Fomos direto para o pronto
socorro infantil do Ipasgo, pois precisávamos do encaminhamento do plano para a
UTI.
Quando chegamos lá já fomos logo atendidos,
expliquei ao médico o que estava acontecendo, que ele estava tomando altíssimas
doses de corticoide, que isso poderia provocar uma elevação da pressão
arterial, que havia sido aferida inúmeras vezes e só estava subindo, cada vez
mais alta e ele me perguntou em qual aparelho que estávamos aferindo, eu disse
que era no meu, ele pediu para ir buscar pois lá na emergência do Ipasgo não
tinha esse aparelho para criança, um absurdo! Pois se trata de uma emergência
pediátrica, é obrigatório ter tudo, todo tipo de aparelho, dos mais simples aos
mais complexos. Tá, o Artur buscou no carro e o médico aferiu, já deu 21x17,
meu filho estava a ponto de dar um AVC, de morrer com uma pressão assim! Ele
foi transferido de UTI Móvel imediatamente para o Hospital Infantil de
Campinas, lá já o estavam esperando com a vaga de UTI.
Quando entreguei meu filho ali na porta
daquela UTI meu coração se desfez, que dor senti naquele momento! Eu o beijei e
disse que seu anjinho da guarda estaria ali o tempo todo para o proteger, se
ele tivesse medo era só o chamar! Sentei com minha mãe lá na porta da UTI
esperando a dra o avaliar e ir lá falar comigo, eu rezava, rezava, pedia,
implorava a Deus pelo meu filho, pedia que Nossa Senhora o colocasse no colo
naquele momento e cuidasse dele por mim! Que dor, que dor!
Passou uns 10 minutos, veio a dra, não consigo
lembrar o nome dela, acho que Sandra, Cinthia, não sei...ela me perguntou qual
medicamento que haviam feito nele lá na emergência do Ipasgo, que não estava no
encaminhamento, eu respondi que não fizeram medicamento algum, nada! E ela com
uma cara sem entender, me disse que haviam aferido a pressão dele lá dentro da
UTI e estava normal, 11x07, que não estava alterada. Eu olhei pra minha mãe e
nós duas falamos ao mesmo tempo "o aparelho"! A dra nos olhou e
perguntou o que estávamos falando, eu respondi que o tempo todo só foi aferida
a pressão com o mesmo aparelho, pois por onde ele passou ninguém tinha aparelho
de pressão infantil.
Ela me pede para ver, eu o entrego pra ela,
pois estava com ele na bolsa, ela pegou e foi lá pra UTI, passado um tempinho
ela volta e me diz que ele estava errado, que ele era para recém nascido, não
para bebê , ainda mais para um bebê gordinho e eu chorei, chorei ali na frente
dela, grata a Deus! Mas ele já estava dentro da UTI e de lá não podiam o deixar
sair, mesmo a pressão estando normal, que era preciso fazer exames, pois ele
estava muito inchado e eu explicava pra ela o porquê do inchaço, que era reação
do corticoide, das altas doses, que ele iria desinchar quando parássemos com o
medicamento, mas ela me dizia que não poderia deixar ele sair de lá, que haviam
passado uma sonda nasogástrica, que ele teria que ficar com ela até o outro dia
(isso já eram 2h da manhã) para fazer exames de sangue. E eu chorava e dizia
que meu filho não tinha nada, que a imunidade dele estava baixa por causa do
corticoide, que se ele ficasse ali naquela UTI sem necessidade ele corria o
risco de pegar uma bactéria, uma infecção. Que ele estava ali por um erro, não havia
necessidade...Eu só pensava " Senhor, meu filho está lá por um erro, por
um conjunto de erros, não o deixe lá, ele corre risco ficando lá dentro."
E eu pedia a dra para o liberar pro
apartamento e ela me dizia que por causa da sonda ele teria que ficar em
observação, eu respondi que eu era fonoaudióloga e minha mãe técnica de
enfermagem, que nós nos responsabilizávamos e Deus tocou no coração dela e ela
confiou em nós e liberou o Matheus para ir para o apto. Mas antes de sair da
UTI a dra me chamou lá dentro para que eu visse a respiração do Matheus, que
estava curta, ofegante, eu respondi que estava "normal" para o quadro
dele, que era também efeito do corticoide. O Matheus estava só de fralda,
amarrado pelas perninhas e braços, meu coração doeu e eu pedi a Deus para que
nunca mais me deixe ver meu filho assim, que nunca mais permita meu filho
passar por isso.
No apto o Matheus estava ainda com a sonda e muuuuito
agoniado, eu pedi para a médica de plantão para retirar a sonda dele e que eu
pudesse o amamentar, ela disse que a prescrição da UTI era para que continuasse
com a sonda, ela me perguntou se ele estava com histórico de engasgos, tosse,
eu disse que nunca, ele não tinha disfagia, ela me olhou e eu completei : "dra,
eu sou fonoaudióloga, sei do que vocês tem medo, mas como fono eu te afirmo que
ele não tem disfagia, ele mama normal e mama em mim!" Ela sorriu e me
disse " tá bom, eu confio em você, afinal são vocês fonos que liberam a
dieta ou não para nós com os pacientes" e eu sorri e agradeci muito! Minha
mãe mesmo retirou a sonda, quando a técnica do hospital chegou para retirar o
Matheus já estava mamando! E eu ajoelhei no banheiro do apto e agradeci a Deus,
por sua misericórdia e amor pelo meu filho!
E ali o Artur, minha mãe e eu acabamos de
amanhecer com o Matheus, de manhã passou o pediatra de plantão e deu alta para
ele, só pediu que o levássemos ao neuro. De lá fomos para o dr Raphael, quando
chegamos no consultório ele nos recebeu sorrindo, como sempre, pensa em uma
pessoa bem humorada, é ele! Ele avaliou o Matheus e nos disse que estava tudo
bem, que ficássemos calmos, confiamos muito nele e assim fizemos, viemos embora
com nosso pacotinho de felicidade nos braços!
Conto pra vocês essa passagem, esse momento
difícil que vivemos como um alerta, o Matheus foi parar em uma UTI completamente
sem necessidade, por uma série de erros, se não tivessem me vendido o aparelho
errado (e eu tivesse percebido esse erro), se aqui no hospital tivesse o
aparelho certo, se lá na emergência do Ipasgo também tivesse o aparelho para
criança, se se se... No momento de dor, de desespero erramos, induzimos e somos
induzidos ao erro. Então, nos momentos difíceis, de dor, confie, entregue,
suplique à Deus misericórdia, Ele ouvirá! Ele ouve os apelos mais desesperados,
pedido de mãe tem poder, acreditem nisso, mas aquele pedido de verdade, de
coração, de alma! Eu supliquei à Deus a vida e cura do meu filho e hoje ele
está aqui, saudável, custoso, esperto, CURADO!
E mais uma vez ser fonoaudióloga me ajudou a
ajudar meu filho, assim, a cada dia eu entendo e agradeço à Deus pela linda
profissão que colocou em minha vida, Deus me fez ser fono para ajudar não só “os
filhos dos outros”, mas principalmente o meu filho! Desde a UTI Neonatal até
agora foram várias vezes que “ser fono” fez a diferença em nossa vida. Amo
minha profissão cada dia mais!
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